Psicanálise, Transferência, Educação
Escrevi minha tese de conclusão do curso de Psicologia sobre motivação intrínseca na aprendizagem, analisando meus dados sob a lente da Psicanálise. Escolhi uma de minhas professoras do núcleo de Psicanálise e Educação para avaliar meu trabalho e, apesar de ela ter escrito comentários positivos, foi assertiva em relação a minha falta de análise sobre a transferência entre aluno e professor – segundo ela, a grande contribuição da psicanálise à compreensão do processo educativo. Na época eu não entendi muito bem sua colocação, assim como não entendi a importância da transferência na educação. Depois de 12 anos, uma luz se acendeu ao final de minha 5a semana de aula no 1o ano.
Desafios
Pela primeira vez desde que comecei a lecionar, fui designada como professora de um 1o ano. Um 1o ano com muitos desafios comportamentais, sociais e emocionais, uma proporção de meninos:meninas de 16:9, e pelo menos 10 alunos ainda não alfabetizados. Passei o primeiro mês de aulas em choque, convencida de que não seria possível ‘domar’ aquelas crianças para que se comportassem como alunos de primeiro ano e não como pré-escolares.
Desânimo, reflexão, planejamento
Depois de muita vontade de desistir, muita reflexão, e muitos ajustes em meu planejamento, finalmente comecei a estabelecer conexões pessoais através das historias que meus alunos vêm escrevendo (cada um à sua maneira) e dos livros que vêm lendo (cada um dentro dos seus limites). O resultado apareceu nos desenhos com corações e flores que passei a receber, nos abraços e sorrisos que me vêm sendo presenteados. Juntamente com essas manifestações, a postura diante da aprendizagem também está mudando: crianças que antes relutavam em produzir historias por não saberem escrever, ou que não paravam no lugar durante leitura por não saberem ler passaram a se mostrar empolgadas com suas produções e com seus livros, passaram a procurar com dedicação maneiras de escrever suas palavras e de ler seus livros. Essas maneiras, mesmo não sendo maneiras convencionais – ou até por isso – vêm gerando uma aprendizagem fantástica.
Ah! Agora eu entendi!
Enquanto dirigia para casa depois de mais um dia intenso no primeiro ano, de repente me ocorreu que, ao dedicar alguns minutos por dia às necessidades individuais dos meus alunos, enchi o coraçãozinho deles de esperança e de auto-credibilidade. No meu olhar, na transferência, essas crianças puderam se desengessar e voltar a se desenvolver. Hoje, finalmente entendi o que minha professora tentou me dizer em 2001.
Response to "Psicanálise, Transferência, Educação"
Sabia que chegaria lá e que poderia fazer muitos pequenos felizes.
Vc é determinada e não iria desistir fácil.
Parabéns e mais desafios com sucesso.
Bjo